quarta-feira, 4 de outubro de 2017

pelas janelas da barca

o mar pelas janelas da barca mal se vê. se vê de longe o que é tão próximo como um paradoxo dessas janelas pequenas. o mar que mal se vê é cinza como chumbo e dele se veem brotar as patas da ponte, como uma centopeia atravessando uma poça de água suja. o barulho do motor e a trepidação lembram a respiração de um bicho, que atravessa o mar meio cansado levando parasitas em sua carcaça. de longe os guindastes parecem insetos, louva-a-deus, prontos pra mexer seus braços mecânicos e carregar estômagos de navios com contêineres, parasitas a serem levados por aí, singrando o mar cinza-chumbo. já perto do destino cruza o céu um inseto branco alado e barulhento, a pousar do lado esquerdo, rápido e duro como um besouro com rodas. ao redor o mar chumbo é como uma bacia de cinzas de uma fogueira queimando há séculos. pelas pequenas janelas da barca mal se vê.

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