Assisti recentemente ao último filme do Almodóvar – Abraços Partidos – e o que mais me chamou atenção foram os heterônimos, as personagens criadas pelas personagens.
Li algumas críticas do filme, mas até então não encontrei nenhuma que tratasse dessa duplicação das personagens; as que li tratam basicamente das referências, da metalinguagem e da cinefilia, características sem dúvida marcantes no filme.
Como não pretendo revelar a trama de um filme que ainda está no cinema, limitar-me-ei a advertir sobre essa peculiaridade. A narrativa revela três personagens que se duplicam, tornando-se, assim, seis. O mais óbvio é Harry C., pseudônimo do diretor Mateo; mas há ainda duas outras personagens que se atribuem heterônimos a fim de realizar certas façanhas ou escondê-las.
Os heterônimos, no entanto, surgem, são retomados ou se intensificam numa situação limite: a morte ou risco de morte de alguém próximo. Isso me parece bastante interessante, na medida em que a morte de outra pessoa (ou sua iminência) leva o personagem assumir outro nome, outra identidade.
A estória se desenvolve a partir de uma morte, que faz um heterônimo nascer e outro morrer: um pseudônimo é criado para perscrutar e revelar o passado do morto e outro praticamente se extingue, como se essa morte o tivesse libertado, ao lhe servir de ponto de partida para uma catártica volta ao passado.
Talvez os "abraços partidos" refiram-se mais à relação dos personagens com os seus heterônimos que às relações dos personagens entre si.
Mais não falo, agora. Não quero estragar surpresas.
Li algumas críticas do filme, mas até então não encontrei nenhuma que tratasse dessa duplicação das personagens; as que li tratam basicamente das referências, da metalinguagem e da cinefilia, características sem dúvida marcantes no filme.
Como não pretendo revelar a trama de um filme que ainda está no cinema, limitar-me-ei a advertir sobre essa peculiaridade. A narrativa revela três personagens que se duplicam, tornando-se, assim, seis. O mais óbvio é Harry C., pseudônimo do diretor Mateo; mas há ainda duas outras personagens que se atribuem heterônimos a fim de realizar certas façanhas ou escondê-las.
Os heterônimos, no entanto, surgem, são retomados ou se intensificam numa situação limite: a morte ou risco de morte de alguém próximo. Isso me parece bastante interessante, na medida em que a morte de outra pessoa (ou sua iminência) leva o personagem assumir outro nome, outra identidade.
A estória se desenvolve a partir de uma morte, que faz um heterônimo nascer e outro morrer: um pseudônimo é criado para perscrutar e revelar o passado do morto e outro praticamente se extingue, como se essa morte o tivesse libertado, ao lhe servir de ponto de partida para uma catártica volta ao passado.
Talvez os "abraços partidos" refiram-se mais à relação dos personagens com os seus heterônimos que às relações dos personagens entre si.
Mais não falo, agora. Não quero estragar surpresas.