“Nunca
homens e mulheres se aventuraram com tanta coragem em busca de novas
descobertas, só que, desta vez, para dentro de si mesmos. Cada um
quer saber quais são suas possibilidades, desenvolver seu potencial.
O amor romântico propõe o oposto disso, pois prega a fusão de duas
pessoas. Ele então começa a deixar de ser atraente. Ao sair de cena
está levando sua principal característica: a exigência de
exclusividade. Sem a ideia de encontrar alguém que te complete,
abre-se um espaço para outros tipos de relacionamento, com a
possibilidade de amar mais de uma pessoa de cada vez”, diz a
psicanalista e escritora Regina Navarro Lins.*
A exclusividade é um dogma. Por que o amor tem que se restringir a duas pessoas? Por que o amor não pode se expandir? O que acontece com os desejos? E se nos revelarmos? A revelação é o que acontece no filme “De olhos bem fechados” (1998), de S. Kubrick. Contém spoilers! Alice, personagem interpretada por Nicole Kidman, revela a seu marido, Dr. Bill (Tom Cruise), seu desejo sexual por outro homem.
A exclusividade é um dogma. Por que o amor tem que se restringir a duas pessoas? Por que o amor não pode se expandir? O que acontece com os desejos? E se nos revelarmos? A revelação é o que acontece no filme “De olhos bem fechados” (1998), de S. Kubrick. Contém spoilers! Alice, personagem interpretada por Nicole Kidman, revela a seu marido, Dr. Bill (Tom Cruise), seu desejo sexual por outro homem.
A
partir daí, Bill entra em um processo de desejos, fantasias e
rituais. Vai parar num assombroso baile de máscaras em que várias
pessoas transam livremente. A loja de máscaras e os diálogos dão a
entender que vivemos no mundo do arco-íris e que o baile é além,
um cenário pós-arco-íris. Um piano sombrio atravessa todo o filme.
O fato é que na cena final, depois de toda busca frustrada de Bill,
de todas as fantasias e máscaras caídas, Alice diz que eles tem
que fazer uma coisa o mais rápido possível: “foder”. O diálogo
final indica que o casal vai continuar se amando, construindo a
relação.
Outro
filme que trata da exclusividade de um modo criativo é Her (Ela, de
Spike Jonze, 2013), ganhador do oscar de melhor roteiro original. No
filme, que se passa num futuro não tão distante, Theodore,
personagem de Joaquin Phoenix, se apaixona por Samantha, cuja voz é
de Scarlett Johansson. Tudo normal para um cara que estava desolado
com o fim de um longo relacionamento, exceto pelo fato de que
Samantha é um novo sistema operacional.
Ela
passa a acompanhá-lo durante todo o tempo, no computador, no
celular, em qualquer tela, em fones de ouvido. Theodore
trabalha escrevendo cartas pessoais comoventes para outras pessoas e
Samantha o ajuda em tudo, desde a hora de acordar até seus sonhos.
Ela não tem corpo, mas tem voz, expressa sentimentos, vontades e os
dois passam a namorar.
Chegam
até a viajar juntos para uma cabana. Tudo se abala no momento em que
ele descobre que Samantha se relacionava com várias outras pessoas e
sistemas operacionais ao mesmo tempo. A relação prescindiu de um
corpo, mas foi enfraquecida pelo dogma da exclusividade.
Theodore desaba quando descobre que não é o único. E por que agir
assim se ela o amou de qualquer forma? O poliamor já é uma
realidade, a liberdade e a felicidade não devem ser limitadas por
dogmas.
Concluindo
com as palavras de Regina Navarro Lins: “é provável que o modelo
de casamento que conhecemos seja radicalmente modificado. A cobrança
de exclusividade sexual deve deixar de existir. Acredito que, daqui a
algumas décadas, menos pessoas estarão dispostas a se fechar numa
relação a dois e se tornará comum ter relações estáveis com
várias pessoas ao mesmo tempo, escolhendo-as pelas afinidades. A
ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da
vida pode vir a se tornar coisa do passado.”
*Regina Navarro Lins (Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1948) é uma psicanalista e escritora brasileira. Também é palestrante em assuntos como relacionamentos afetivos e sexualidade.
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