sábado, 13 de setembro de 2025

REPRESENTAÇÕES DO BANDITISMO NA LITERATURA BRASILEIRA: CANGAÇO E TRÁFICO DE DROGAS

 

RESUMO

 

Análise do banditismo na literatura brasileira, com pesquisa acerca da sua definição, de sua origem, de seus elementos e de suas representações em obras artísticas, sobretudo literárias, com destaque para o cangaço e o tráfico de drogas. Tanto nos sertões como nas favelas, criminosos viraram história, nos aspectos de registros de fatos e de criações ficcionais. O presente trabalho objetiva traçar um paralelo entre os bandidos dos sertões nordestinos e dos traficantes de droga, cuja atividade é, em geral, urbana.  Por meio de análise literária, comparativa e interdisciplinar, propõe-se revisitar obras artísticas nacionais que tratam de referidos criminosos e sua relação com o espaço, a sociedade e as relações de poder.

 

Palavras-chave: arte; literatura brasileira; cangaço; tráfico de drogas; banditismo.

 

SUMÁRIO

 

1.     INTRODUÇÃO.. 5

2.     DESENVOLVIMENTO.. 8

2.1. Lei e infrações

2.2. Estudos sobre o sertão e o cangaço na literatura.

2.3. Análise do tráfico de drogas na literatura

2.4. Do sertão às favelas

3.     Conclusão.. 21

REFERÊNCIAS


 

1.     INTRODUÇÃO

“O sertanejo é antes de tudo um forte”; o favelado também. Assim como os cangaceiros, os traficantes de drogas são uma minoria. Enquanto Graciliano Ramos descreve o sertanejo comum, integrante da maioria, em Vidas Secas, muitos cordéis e obras literárias tratam dos bandidos, dos cangaceiros. O mesmo ocorre com os traficantes de drogas, como vemos em Cidade de Deus, de Paulo Lins. Apesar de figurarem como exceções, os criminosos exercem um tipo de fascínio e acabam se destacando em obras literárias, ficcionais ou não, como Estação Carandiru de Dráuzio Varella.   

Trata-se da análise de algumas obras artísticas, sobretudo literárias, que trazem representações do banditismo brasileiro, especialmente do cangaço - inerente a uma fase de predominância rural do país e, portanto, mais antigo - e do tráfico de drogas, que cresce à margem, nos grandes centros urbanos contemporâneos. E, sobretudo, a tentativa de estabelecer um paralelo entre os crimes dos sertões e aqueles que ocorrem nas favelas, sem negar, todavia, seus vínculos estreitos com o povo dos condomínios, do “asfalto”, como são designados aqueles de fora das comunidades.

Aqueles que violaram e violam as leis afetam a estrutura de poder, considerando tanto o Estado como a sociedade. Para Eric Hobsbawm, historiador que escreveu sobre banditismo social:

 

Nas montanhas e nas florestas, bandos de homens violentos e armados, fora do alcance da lei e da autoridade (tradicionalmente, mulheres são raras), impõem suas vontades a suas vítimas, mediante extorsão, roubo e outros procedimentos. Assim, o banditismo desafia simultaneamente a ordem econômica, a social e a política, ao desafiar os que têm ou aspiram ter o poder e o controle dos recursos. Esse é o significado histórico do banditismo nas sociedades com divisões de classe e Estados. (Hobsbawm, 2010, p. 21).*

 

No presente ensaio, pretende-se, por meio da análise literária, comparativa e interdisciplinar, trazer as representações do banditismo nacional, relacionando-o com o meio, com as suas causas e práticas, com a violência e com a repressão, com atenção a pontos de divergência entre os criminosos de ontem e de hoje.

É do filósofo Ortega Y Gasset a frase "civilização é, antes de mais nada, vontade de convivência ". No caso dos crimes - em especial do cangaço e do tráfico de drogas -, constata-se o caráter de afronta às normas e práticas estabelecidas e, mesmo assim, é relevante que se questione suas representações e em que medida se contrapõem a civilização e as dificuldades de convivência.

Se a lei explica muito acerca da sociedade e do Estado, dado que emerge como normatização e valoração de condutas aprovadas ou reprimidas, a violação da lei por certos grupos e em determinado período histórico também é capaz de trazer luz sobre pontos obscuros das relações humanas.

Deste modo, o presente ensaio se debruça sobre o banditismo e se aprofunda em sua representação na literatura brasileira, propondo uma análise dos seus pressupostos, assim como das possíveis caracterizações dos crimes do passado e do presente, ainda que de forma panorâmica.

Não há dúvida de que o banditismo, como fenômeno social, encontra espaço na história, considerando suas marcas e suas consequências. A literatura e a arte, aqui entendidas com amplitude, acabam por trazer para o campo artístico representações do crime e dos criminosos que vão além do registro e não deixam de ser importantes na compreensão do fenômeno.

Propõe-se, portanto, um exame multidisciplinar que abarca obras literárias, filmes, livros de história, crítica literária e artigos, a fim de obter uma pesquisa e análise mais ampla acerca dos temas abordados.


2.     DESENVOLVIMENTO

 

2.1. Lei e infrações

 

A violação da lei e o próprio questionamento acerca das ordens ou proibições impostas pelo Rei ou Estado - figuras que muitas vezes se confundiam - encontra representações antigas na arte, como se vê na tragédia grega Antígona, de Sófocles, representada pela primeira vez em 441 a.C.

Na peça, a lei é o ponto central de um conflito fundamental entre a norma do Estado (positiva) e a lei divina ou natural. Antígona, com o objetivo de sepultar seu irmão Polinices, desafia o decreto de Creonte, que proíbe o enterro daquele que entende como traidor.  

Assim, Antígona viola uma norma positiva imposta por Creonte, ou seja, uma lei temporal, por entender que uma lei natural lhe conferia o direito do, como familiar, enterrar o seu irmão.

Destaca-se trecho do diálogo entre Antígona e Creonte:

 

Creonte

E te atreveste a desobedecer às leis?

Antígona

Mas Zeus não foi o arauto delas para mim,

nem essas leis são ditadas e entre homens

pela justiça, companheira de morada

dos deuses infernais; e não me pareceu

que tuas determinações tivessem força

para impor aos mortais até a obrigação

de transgredir normas divinas, não escritas,

inevitáveis; não é de hoje, não e de ontem,

é desde os tempos mais remotos que elas vigem,

sem que ninguém possa dizer quando surgiram. 

(SÓFOCLES, A Trilogia Tebana, 1990, p. 530).

 

 

A questão que se coloca, tal como em Antígona, é se as manifestações de rebeldia e até criminosas, como as que se viam no cangaço e se veem no tráfico de drogas, poderiam ser entendidas como manifestações de um direito natural, dadas as injustiças estruturais em que os referidos banditismos emergiram e emergem.

Em um contexto de muita terra para poucos proprietários protegidos por jagunços, seria um direito natural pegar em armas?

E nas favelas, bolsões de miséria, com a criminalização do comércio de certas substâncias (opção do Estado, visto que o álcool, por exemplo, é uma droga lícita), haveria um direito natural de empreender com drogas ilícitas, usadas por membros de todas as classes sociais?

Segundo Hobsbawn:

 

Os bandidos, por definição, resistem a obedecer, estão fora do alcance do poder, são eles próprios possíveis detentores do poder e, portanto, rebeldes potenciais. Na verdade, a palavra bandido provém do italiano bandito, que significa um homem banido, posto fora da lei seja por que razão for, ainda que não surpreenda que os proscritos se transformassem em ladrões. (Hobsbawm, 2010, p. 26).

 

É relevante notar que a própria origem do termo bandido trata daquele “posto fora da lei” e traz a ideia que o criminoso talvez fosse marginalizado, no sentido de ser colocado à margem, antes mesmo de se tornar um infrator.

Ainda conforme Hobsbawn (2010), para haver banditismo, um pressuposto é indispensável: a existência de ordens socioeconômicas e políticas que possam ser desafiadas. Da mesma forma, para compreender o fenômeno, é imprescindível analisar a história do poder e de seu controle.

Se a miséria é uma imposição do Estado, do destino ou da sociedade, revoltar-se por meio do banditismo seria um direito natural a que o indivíduo se arroga?

            “O bandido não é só um homem, é também um símbolo” (Hobsbawn, 2010. P. 165). E são esses homens, que não deixam de ser símbolos, que encontram repercussão em obras artísticas, não só literárias, mas também na música, nos versos, cordéis, filmes, além de outras representações.

 

2.2. Estudos sobre o sertão e o cangaço na literatura.

 

Tudo era seco em redor. E o patrão era seco também, arreliado, exigente e ladrão, espinhoso como um pé de mandacaru. Indispensável os meninos entrarem no bom caminho, saberem cortar mandacaru para o gado, consertar cercas, amansar brabos. Precisavam ser duros, virar tatus. (RAMOS, Vidas Secas, 2008, pp. 24 e 25).

 

            Como o trecho de Vidas Secas deixa claro, não era só o ambiente e o clima que eram secos, mas também o trabalho e as relações que se estabeleciam, duras, espinhosas, difíceis.

Para entender o cangaço, faz-se necessário compreender antes o sertão entre o fim do século 19 e início do século 20. Para tanto, faz-se referência a diversos autores que tratam do sertão e do cangaço, tais como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Euclides da Cunha, Franklin Távora, José Lins do Rego e Jorge Amado, entre outros.

            Certo é que o sertão nordestino é frequentemente retratado como árdua paisagem, marcada pela seca, pela vegetação de caatinga e pela presença de sertanejos que buscam o sustento em meio à dificuldade. 

Não resta dúvida de que a seca é um elemento central nas descrições, muitas vezes personificada como uma força opressora que afeta tanto a natureza quanto a vida das pessoas. 

Os sertanejos, na verdade, podiam ser considerados duplamente marginalizados. Estavam à margem da sociedade, empobrecidos, com recursos escassos, e também longe do litoral, das margens do oceano atlântico, onde, em regra, estavam os centros dos poderes econômicos e políticos do Brasil, teoricamente com mais oportunidades. Tanto que é assim que a História e a literatura descrevem a saga dos retirantes.

E foi neste solo seco, quebradiço, rachado, que pessoas - em sua maioria, homens - tiveram acesso a armas, a princípio a mando dos poderosos locais (coronéis), mas depois como bandoleiros independentes, dando forma ao cangaço (Hobsbawm, 2010, pp. 190 e 191).

Dada a natureza do presente ensaio, tem-se o objetivo de buscar a essência do banditismo do sertão, tendo em conta a exclusão social, os parcos recursos e o caráter infrator dos cangaceiros.

De acordo com trecho de Jorge Amado, vê-se o poder do cangaço e sua relação com o espaço físico:

 

 Aqui, na caatinga, habitam os cangaceiros. Os soldados da vingança, os donos do sertão.  Não têm paz nem descanso, não têm quartel bivaques, não têm lar nem transporte. Sua casa é seu quartel, sua cama e sua mesa são a caatinga, para eles bem-amada.  Os soldados da polícia que os perseguem não se atrevem a penetrar por entre os arbustos de espinhos, os pés de xiquexiques e croás. Ao lado das serpentes e dos lagartos, vivem os cangaceiros na caatinga, e também eles, por vezes, liquidam no tiro das suas repetições os sertanejos que descem e que sobem na contínua migração. (AMADO, Seara Vermelha, pp. 43 e 44).

 

Indispensável para entender o cangaço em sua representação literária, destaca-se a obra de José Lins do Rego. Em 1938, o referido escritor publica Pedra Bonita e, em 1953, Cangaceiros, segundo e último romance da série.

 O aludido escritor traz em suas obras que tratam dos cangaceiros diversos elementos inerentes à atividade criminosa e à vida no sertão, como a sua cultura, o fanatismo religioso (aprofundado em Os Sertões, de Euclides da Cunha) e o coronelismo.

Convém destacar a nota de introdução de Cangaceiros, na qual José Lins do Rego ressalta a relação entre a obra e Pedra Bonita:

 

Continua a correr neste Cangaceiros o rio de vida que tem as suas nascentes em meu anterior romance Pedra Bonita.  É o sertão dos santos e dos cangaceiros, dos que matam e rezam com a mesma crueza e a mesma humanidade. (REGO, 2022, p. 15).

 

Em cangaceiros, o autor deixa claro a força, o poder do cangaço e do fanatismo religioso. Senão vejamos:

- Tu sabe, Bentinho, eu caí no cangaço sem mesmo saber como. Estava lá na Pedra e o santo tinha tomado conta de mim. Eu vi aquela desgraça de tiroteio da tropa. Tu chegaste nas vésperas com a notícia da força do governo. Para te falar com franqueza, eu não cheguei a acreditar. Foi um fogo danado. Eu estava longe da latada da minha mãe. O velho tinha se enterrado, nem fazia uma semana. E eu vou dizer, quando Aparício entrou na Pedra eu disse comigo: “Aparício e o santo vão se encontrar e não vai aparecer neste mundo poder maior do que os dois juntos.” (REGO, 2022, pp. 53 e 54).

 

José Lins do Rego elabora uma narrativa que  contém o  complexo  campo das relações entre cangaceiros, coronéis, fanáticos religiosos e a força policial. Vê-se emergir nela, em fluxo tormentoso, as relações entre os personagens no meio social, assim como sua interação enraizada no espaço geográfico.  (SILVA, 2020, p 11).

É de se destacar que na obra cinematográfica Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, lançada no conturbado ano de 1964, há um diálogo que menciona Pedra Bonita, romance de José Lins do Rego. Não se pode deixar de mencionar Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, publicado em 1956, que evidencia  conflitos do sertão e a dualidade humana.

O messianismo de Antônio Conselheiro – e Sebastião, seu correspondente em Deus e o diabo na terra do sol – que se contrapõe à igreja católica, instituição forte no sertão. O cangaço, por sua vez, contesta o poder do coronelismo e do Estado, mas, em regra, mantém a fé católica, como os cangaceiros devotos de Padre Cícero.

O cangaço, em sua representação literária, não deixa de ser um esforço de captar e descrever acontecimentos que marcaram a História e a cultura regionais, sem, no entanto, afastar-se da ideia de peculiaridade brasileira, nacional, o que encontra repercussão na obra Introdução à literatura no Brasil, de Afrânio Coutinho:

 

Nacionalizar a literatura, sem contudo perder a cultura clássica e a nobre emulação dos monumentos estrangeiros” (Araripe Júnior), eis o ideal do pensamento literário nacionalista. E por nacionalizar entenda-se absorver e captar as peculiaridades da situação sócio-histórico-geográfica, fazendo-as viver como “símbolos que traduzam literariamente a nossa vida social” (Araripe Junior). Assim fizeram no passado nossos maiores escritores, e assim o fazem no presente. (COUTINHO, 1980, p. 236).  

 

Na obra História da Literatura brasileira, de Luciana Stegagno Picchio, destaca-se a inspiração de autores consagrados na literatura de cordel, quando se trata da saga dos cangaceiros:

 

Fabulosos cantadores ou trovadores populares como Nicandro Nunes da Costa, Leandro Gomes de Barros ou Silvino Pirauá Lima, todos eles desabrochados entre o fim do século XIX e o primeiro quarto do século XX, divulgam de fazenda em fazenda, de feira em feira, as obras-primas desse gênero [cordel], do qual a literatura culta extrai pincelas coloridas para seus próprios textos. Não é por acaso que os cangaceiros de Jorge Amado, de José Lins do Rego, mas sobretudo de Guimarães Rosa se moverão no espaço sertão como paladinos da França nas florestas europeias. (PICCHIO, 2024, p. 46).

 

Para o propósito do presente ensaio, mostra-se imprescindível revelar a figura de Lampião, como resultado do meio, nas palavras de Graciliano Ramos:

 

O que transformou Lampião em besta-fera foi a necessidade de viver. Enquanto possuía um bocado de farinha e rapadura, trabalhou. Mas quando viu o alastrado morrer e em redor dos bebedouros secos o gado mastigando ossos, quando já não havia no mato raiz de imbu ou caroço de mucanã, pôs o chapéu de couro, o patuá de cabra preta, tomou o rifle e ganhou a capoeira. Lá está como bicho montado.

Conhecidos dele, velhos, subiram para o Acre; outros, mais moços, desceram para São Paulo. Ele não: foi a Juazeiro, confessou-se ao Padre Cícero, pediu benção a Nossa Senhora e entrou a matar e roubar. (RAMOS, Cangaços, 2014, p. 28).

 

Graciliano Ramos descreve Lampião como sertanejo que, diante das adversidades naturais e sociais, em vez de migrar, acaba por virar cangaceiro, inicia-se no crime, sem deixar de lado a religiosidade, tão marcante no sertão. É o bandido que antes de sê-lo era trabalhador rural, que veio a trocar a enxada pela espingarda e, mesmo armado, não se afasta da fé religiosa.

A representação do cangaceiro, na literatura - incluindo-se os cordéis e a modalidade cantada dos repentes -, não é apenas de um simples criminoso maldoso e sem outros propósitos ou mesmo desenraizado. É antes a de homens, frutos espinhosos do sertão, que desafiam injustiças sociais e que respondem a violência das forças estatais. Daí o seu enquadramento como representantes do denominado banditismo social, conforme Hobsbawn (2010), mesmo com as assertivas críticas de seus comentadores.

 

2.3. Análise do tráfico de drogas na literatura

 

            Como se sabe, o tráfico de drogas não se limita às favelas. Trata-se de fenômeno que se vincula ao proibicionismo e se encontra disseminado em todas das classes sociais. Usuários e traficantes podem ser encontrados nos mais diversos grupos sociais. Todavia, no presente ensaio, dadas as obras literárias pesquisadas e a busca de relação com o cangaço, a ênfase será o tráfico de drogas praticado por quadrilhas e/ou facções nas periferias urbanas, por grupos marginalizados.

            Para compreender o tráfico de drogas, sobretudo o comércio ilícito contemporâneo, revela-se indispensável se aprofundar o conceito de proibicionismo:

 

O valor das drogas ao longo da história humana é enorme. No sentido cultural e moral, assim como no sentido econômico da palavra valor. Foi maior que o dos alimentos em muitos contextos, especialmente na dimensão do sagrado. Sempre foi, assim, um hiper-valor. Mas no período moderno e, mais ainda, no contemporâneo, essa condição foi elevada de forma exponencial.

O hiper-valor de uso se manifesta no mercado global crescente de produtos psicoativos, na intensificação e difusão da sua amplitude, e nas formas de seu excesso, como hybris compulsiva e hoje cada vez mais hiperconsumista. O vício no consumo é um valor de uso exacerbado em que os produtos além de comprados são consumidos corporalmente por ingestão. São os bens não-duráveis que mais rapidamente recriam permanentemente o ciclo de produção e consumo. (...)

Com o advento do proibicionismo e da separação das drogas em categorias lícitas e ilícitas o hiper-valor foi hipertrofiado. A proibição agregou um enorme valor às substâncias cujo mercado clandestino permitiu formas de hiperacumulação de capital por meio de isenção fiscal, margem de lucro gigantesca e regime de monopólio com o uso da violência sobre a força de trabalho produtora, o sistema comercial e o mercado consumidor. (...)

O hiper-valor como signo expressa o bode expiatório simbólico e real da atualidade, o inimigo por definição, o traficante, figura à qual se reduz, por metonímia, o conjunto dos crimes. Em qualquer tiroteio nas favelas com as vítimas anônimas de sempre, o seu designativo na mídia e nos comunicados oficiais é como traficantes. (CARNEIRO, 2019, pp. 11-14).

 

            O sertão do passado está para o cangaceiro como as favelas estão para o traficante de drogas urbano contemporâneo. Repetem-se em ambas as atividades criminosas - do sertão e das favelas - a pobreza, as condições difíceis, a marginalidade que antecede as infrações.

            Acerca da realidade árdua da favela, antes mesmo da disseminação do tráfico de drogas, Carolina Maria de Jesus registrava em Quarto de Despejo, publicado em 1960:

           

14 de junho ... Está chovendo. Eu não posso ir catar papel. O dia que chove eu sou mendiga. Já ando mesmo trapuda e suja. Já uso o uniforme dos indigentes. E hoje é sábado. Os favelados são considerados mendigos. Vou aproveitar a deixa. A vera não vai sair comigo porque está chovendo. (...) Ageitei um guarda-chuva velho que achei no lixo e saí. Fui no frigorífico, ganhei uns ossos. Já serve. Faço uma sopa. Já que a barriga não fica vazia, tentei viver com ar. Comecei desmaiar. Então eu resolvi trabalhar porque eu não quero desistir da vida. (JESUS, 2014, p. 61).

 

            Para tratar da representação literária do tráfico de drogas, dar-se-á destaque a Cidade de Deus, de Paulo Lins e Elite da Tropa, de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, ressaltando que ambos os livros tiveram adaptações cinematográficas. A primeira narra a saga da favela, descrevendo seus personagens e situações. A segunda, traz um viés da estrutura policial, um olhar de fora, das forças de repressão. Ainda será abordada a obra de Ferréz, que parte de dentro da periferia. Ademais, da mesma forma que os cordéis e repentes narraram os feitos dos cangaceiros, o rap e o funk surgem como o correspondente contemporâneo do banditismo de favela. 

            O romance Cidade de Deus é dividido em três partes: A história de inferninho; A história de Pardalzinho; A história de Zé Miúdo e traz um painel das transformações sociais pelas quais passou o conjunto habitacional de mesmo nome, conhecido popularmente como CDD.

Criada na década de 1960, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, como parte de um programa de habitação do governo da Guanabara, com o objetivo de abrigar moradores de favelas removidas da Zona Sul e do centro da cidade. Inicialmente, o local era um projeto de habitação popular, porém, com o tempo, evoluiu para um bairro com características próprias. O romance homônimo, baseado em pesquisa, descreve a criminalidade e sua evolução na região.  

Como os sertanejos, os favelados da Cidade de Deus também são duplamente marginalizados, retirantes compulsórios. Já não bastasse serem da periferia, moradores dos morros da Zona Sul e do Cento do Município do Rio de Janeiro, são removidos das favelas de origem para a distante Zona Oeste, para viverem mais longe das elites cariocas e da vista dos turistas.

A narrativa do romance Cidade de Deus mostra o crime, que no início da narrativa consistia em roubos, com a posterior progressão para o tráfico de drogas. Tal evolução que parte de atos de furto e roubo, menos organizados e episódicos, para o tráfico de drogas, em que a venda de substâncias ilícitas, de forma organizada, mais fixada e permanente surge como nova prática de banditismo. Sintomático que, durante a evolução do capitalismo, o banditismo com mais força e mais organizado constitua atividade de venda de drogas ilícitas.   

Neste contexto, o tráfico de drogas surge como uma das principais formas de expressão da criminalidade periférica. O romance de Paulo Lins narra a ascensão do tráfico e do conflito, não somente com as forças repressoras (polícia), mas com outros bandidos e quadrilhas. Conflito que nem sempre será resolvido com tiros e mortes, mas também com composições menos violentas.

Assim como o livro homônimo de Franklin Távora, a Cidade de Deus também tinha o seu bandido Cabeleira. No romance de Paulo Lins, o referido criminoso é da primeira fase. Se na pré-história do crime da periferia carioca reinavam os assaltos, a evolução natural foi a passagem ao tráfico de drogas.

É de se destacar que os grupos e bandos praticantes de furtos e assaltos de certa forma se assemelhavam aos cangaceiros, tinham que se manter em movimento e se faziam fortes com as armas e as estratégias de alcançar bens alheios.

O tráfico de drogas, de outro modo, se constitui de outra forma: baseia-se no estabelecimento de um ponto de venda de substâncias ilícitas, a chamada boca de fumo, boca ou biqueira. As armas servem para proteger este local de venda, da polícia - muitas vezes detida não pelo poder de fogo, mas com parte do dinheiro recebido como propina - e das quadrilhas rivais. E por se tratar de comércio, ao que tudo indica, o crime chegou à sua fase mais urbana e capitalista. 

As armas também servem para punir aqueles - usuários, viciados ou nóias - que deixam de pagar o preço monetário cobrado pelas drogas, que são caras não somente em dinheiro. Como o registro de Ferréz em Capão Pecado:

 

[...] as bocas não podem se dar ao luxo de ficar com o prejuízo, porque senão os negócios despencam: é só um nóia saber que tal mano comprou na boca, não pagou e nada aconteceu, que tá feito o boato de que os chefes da boca não tão com nada. O respeito deve prevalecer. (FERRÉZ, p. 36).

 

O pseudônimo Ferréz é, segundo o próprio escritor, uma mistura de dois heróis brasileiros: Lampião, Virgulino Ferreira da Silva (Ferre), e Zumbi dos Palmares (Z).

O tráfico de drogas se caracteriza como a expressão máxima do banditismo dentro das favelas, distinguindo-se do roubo, do furto e de outras atividades criminosas. É o que se vê em Elite da Tropa:

 

O sujeito ficou apavorado: por um lado sabia muito bem que não brinca com o BOPE; por outro lado, entregando as armas, talvez se safasse, mas não escaparia dos seus comparsas, na prisão ou na favela. Seria tratado como X-9. O fato é que resistia, negava, jurava que era só um ladrãozinho de merda, que não tinha nada, que a arma era só aquela ali mesmo. (SOARES et al., 2005, p. 72).

 

Tanto Cidade de Deus quanto Elite da Tropa expõem a violência não só dos traficantes, mas também da polícia, que é retratada, no geral, como corrupta e muitas vezes criminosa por torturar e executar e por fazer laços com os bandidos, atuando no tráfico de armas e recebendo parte do valor da venda das drogas, o chamado “arrego” na linguagem popular.

Elite da Tropa, baseado em fatos, teve que ser lido como ficção dada a criminalidade da atuação policial. Muitos membros do BOPE e da PMRJ retratados no livro são torturadores e homicidas. Na guerra contra as drogas a lei não existe. De ambos os lados; embora só um represente a lei.

A literatura de cordel e o repente estão para o cangaço, como o rap e o funk nacionais estão para o tráfico de drogas das favelas. Não se trata de propor aqui uma criminalização da música produzida nas periferias, mas sim de se reconhecer que, na condição de arte, cantam-se, também nas favelas, as infrações que crescem à margem. Se muitos cordéis cantaram a saga de Lampião, atualmente é nos proibidões que se vê parte da realidade do tráfico de drogas nas favelas, salientando-se que enquanto o cordel e o repente trazem marcas mais regionais e nacionais, o rap e o funk espelham um mundo globalizado.

 

2.4. Do sertão à favela.

           

A relação entre sertão e favela é mais íntima do que se poderia supor. O próprio termo favela tem origem em Os Sertões, de Euclides da Cunha, mas não se referia na aludida obra à ocupação irregular de morros, mas sim a um morro específico em Canudos, o Morro da Favela, assim chamado por causa da vegetação que o cobria, uma planta espinhosa com sementes que parecem fava, daí favela.

Aos soldados que atuaram na Guerra de Canudos, tema do romance de Euclides da Cunha, foi dito que receberiam moradias, mas a promessa não foi cumprida. Então, tal como os retirantes sertanejos, os soldados passaram a ocupar o morro da Providência, no Rio de Janeiro, associando o nome favela, do morro de Canudos, à ocupação carioca.

Literalmente, a favela brotou no sertão. E hoje muitos dos favelados têm origem nordestina. Muitos sertanejos, na qualidade de retirantes, vieram para o sudeste; eles e seus descendentes conviveram e convivem com os traficantes de drogas.

Como se vê em Abusado de Caco Barcellos, a relação das favelas cariocas com os nordestinos é fato, como na descrição da formação da Santa Marta, comunidade na zona sul do Rio de Janeiro:

 

Na década de 1940, os barracos da Santa Marta abrigavam dezenas de famílias vindas do interior fluminense e de ex-escravos que migraram de Minas Gerais. Naquela época o Rio tinha menos de cem favelas, abrigo de 140 mil pessoas, a maioria migrantes. Os pais de Juliano chegaram no final dos anos 50, quando começou a grande invasão nordestina no morro e em todas a cidade, então Distrito Federal. (BARCELLOS, p. 64) 

 

E mesmo antes da década de 1950, havia forte presença de nordestinos no Rio de Janeiro, de modo que até o samba - conhecido como carioca - é alvo de disputas sobre sua criação, que teve a participação de baianos e baianas, estas até hoje homenageadas no carnaval das Escolas de Samba do Rio com ala homônima (NETO, 2017).

O ambiente seco e árduo da caatinga, com sua vegetação espinhosa, serve de proteção ao cangaço, assim como a geografia íngreme dos morros, com suas vielas e a desordem das construções, serve ao tráfico de drogas. Em pontos estratégicos da caatinga, Lampião se escondeu, fez base. Em locais específicos dos morros, os traficantes de drogas vendem entorpecentes e montam, de forma ardilosa, ponto de vigília, para evitar surpresas da polícia e de facções rivais.

Comum a ambas atividades criminosas é a agregação na atividade ilícita da população excedente, como descreve Hobsbawn:

 

A fonte básica de bandidos, e talvez a mais importante, se encontra naquelas formas de economia ou de ambiente rural onde a procura por mão de obra é relativamente pequena, ou que são demasiado pobres para empregar todos os seus homens aptos; em outras palavras, na população rural excedente. (HOBSBAWN, 2010, p. 54).

 

Embora o livro de Hobsbawn trate do banditismo social no âmbito rural, verifica-se que as condições básicas ali retratadas se reproduzem atualmente nas periferias das grandes cidades, de modo que os criminosos das favelas também se enquadrem nas proposições do autor, dada a escassez de recursos e a formação de população excedente. Poder-se-ia dizer que a opressão do coronelismo criou o cangaceiro e da desigualdade social surge o vapor, membro da facção responsável pela venda de drogas.

A diferença que se pode apontar é a da presença de facções, organizações criminosas com atuação internacional no tráfico de drogas. O Comando Vermelho, que teve origem na convivência de criminosos comuns com presos políticos durante a ditadura civil-militar, tornou-se um dos maiores grupos de crime organizado do país. O Primeiro Comando da Capital - PCC também foi criado entre as grades, mas na década de 1990, ou seja, durante o período democrático (AMORIM, 2005).

Outra característica comum ao cangaço e ao tráfico de drogas é a de recrutar os mais jovens. Senão vejamos:

 

Ainda assim, nem todos os homens de tais regiões tendem a se tornar proscritos, ainda que sempre haja grupos cuja posição social lhes dá a necessária liberdade de ação. O mais importante desses grupos compreende os homens jovens, entre a puberdade e o casamento, isto é, antes que as responsabilidades da família lhes pesem nas costas. (HOBSBAWN, 2010, p. 55).

 

            Tal fato é confirmado pela leitura do conto A história do periquito e do macaco no livro o Sol na Cabeça de Giovani Martins:

 

Quando a UPP invadiu o morro, era foda pra comprar bagulho. Maior escaldação; ninguém queria botar a cara pra vender, só tinha criança trabalhando de vapor. Uns moleques de oito, nove anos. Tinha vez que sentia até pena de ver as crianças naquela situação, mas o papo é que a gente se acostuma com cada bagulho sinistro, que pena é coisa que passa rápido; geral continuou comprando droga. (MARTINS, O Sol na Cabeça, 2018, p. 37).

           

Era conturbada a relação estabelecida entre os cangaceiros e a polícia, cujos agentes eram conhecidos popularmente como macacos: o mais comum era a perseguição, com confrontos e mortes. Já no tráfico de drogas também há excesso de mortes - muitas ilegais, consideradas execuções - e prisões, dada a política de guerra às drogas (ZACCONE, 2015). Todavia, há também a participação de policiais corruptos, que fazem “acordos” com os traficantes, participando efetivamente das atividades criminosas, inclusive com o tráfico de armas.

            Enquanto os cangaceiros eram envolvidos com a igreja/fé católica, como já destacado acima, os traficantes apresentam diferentes relações com as religiões. Não se ignora a mais recente ligação entre criminosos do tráfico de drogas com as igrejas pentecostais. Senão vejamos:

 

Como vimos, o pastor narcotraficante Peixão estabeleceu diálogos de confronto com rivais, anunciando a expansão de seu território atual, formado por Parada de Lucas e Vigário Geral. (...).

Segundo relato de moradores de novos territórios conquistados, uma carta-manual foi distribuída para anunciar a troca de comando, com as diretrizes daqueles que chegavam “em nome de Deus”. (...)

A bandeira de Israel desponta como símbolo do Complexo de Israel, organizado a partir da conquista da Cidade Alta e suas adjacências. No ponto mais alto da favela, é ostentada a Estrela de Israel, podendo ser vista por quem passa na mais importante via expressa da cidade, a Avenida Brasil. As demais favelas que formam o Complexo, e aquelas conquistadas posteriormente, são igualmente identificadas como território simbólico sagrado de Israel no Rio de Janeiro. (COSTA, 2023, Pp. 122-124).

 

Enquanto o cangaço se relacionava com os dogmas católicos, o neopentecostalismo parece se adequar melhor ao capitalismo pós-moderno.

 

 

 

 

 

3.     Conclusão

 

A arte surge como reflexo e crítica social ao narrar como atuavam os cangaceiros e como atuam os traficantes de drogas. É antiga a narrativa sobre feitos extraordinários, fatos e histórias que se distanciam do comum, do que se entende como cotidiano. Ao se ater aos criminosos e suas façanhas, as obras literárias, consideradas em sentido mais amplo para incluir o cordel e as letras de músicas, acabam trazendo luz à estrutura social, com suas mazelas, desigualdade e violência, que não se restringe aos atos dos bandidos.

O caráter interdisciplinar permite vislumbrar várias faces das mesmas questões, realizando uma análise que não se pauta apenas na literatura e na ficção, mas também na História e na Sociologia. Acaba, portanto, por aprofundar o estudo do banditismo de ontem e de hoje.

A ligação do termo favela com o sertão, com Canudos dá a dimensão que é a proposta de tratar, ainda que forma sucinta, do banditismo dos cangaceiros e dos traficantes de drogas, encontrando similitudes e diferenças.

Lampião e Zé Miúdo como expressões de um mesmo fenômeno, embora com distinções óbvias e outras nem tão claras, surgem das palavras de Graciliano Ramos e de Paulo Lins. Policiais, BOPE, tropas, tropas volantes. A repressão, a violência, a corrupção a atuação criminosas daqueles que existem para reprimir.

Sobre a base da miséria, da falta de trabalho e da marginalidade imposta, despontam criminosos, uns em bandos, outros em facções, que vêm a dominar o espaço e impor suas regras, à base de armas, rifles, facões, pistolas e fuzis.

Sob a cruz ou com a bíblia, cangaceiros pedem benção a Padre Cícero e traficantes de drogas ostentam bandeira de Israel. O fenômeno é complexo e, mesmo com contradições, paradoxos, se impõe. No crime, porém católicos e evangélicos. Em nome de Jesus, ontem e hoje, mas com armas de fogo.

Ontem, do chão craquelado do sertão, brotaram cangaceiros. Hoje, da viela escura do alto do morro, entre barracos imbricados, brota, de fuzil importado, um soldado do tráfico. A literatura mostra como foi germinada essa semente, com pouca água, vinda de margens distantes; na verdade, das margens das margens. Idade pouca, pouca oportunidade. Promessa de poder, de compra, de consumo. Uma dose de pinga, um pino de pó. Um terço, uma bíblia. Desemprego, ócio, omissão e ódio.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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SILVA, Edvânio Caetano. RESISTIR PARA EXISTIR: UMA ANÁLISE DA OBRA CANGACEIROS, DE JOSÉ LINS DO REGO. Disponível na internet:  https://e-revista.unioeste.br/index.php/rlhm/article/view/24720/1673. Consulta em 20/4/2025 às 19:10h.

 

SOARES, Luiz Eduardo et al. Elite da tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

 

SÓFOCLES. A trilogia tebana: Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona. Rio de Janeiro, Zahar, 1990.

 

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VARELLA, Dráuzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

 

VELASCO, Pedro Ricardo de Souza. Direito natural em litígio: o debate de Antígona e Creonte. 25 de março de 2023.

 

ZACCONE, Orlando. Indignos da vida. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2015.



Mostra-se relevante destacar que o modelo de banditismo social proposto por Hobsbawn é criticado por comentadores, que o definem como “excessivamente universalizante” e que, no caso do cangaço, carece de respaldo bibliográfico, como afirma Luiz Bernardo Pericás em Cangaço e Banditismo Social, in Ruris, Volume 9, número 2, de setembro de 2015. 


Trabalho de conclusão de curso. Pós-graduação em Literatura, Artes e Filosofia. PUC/RS.