Depois de escrever sobre a solidão (Dança de Eleanor) e a paixão (“O meu pensamento tem a cor do seu vestido”), a saudade se impôs como terceiro elemento desta trilogia não planejada.
A paixão e a solidão poderiam ser tratadas como opostos: a paixão como queda - ainda que ilusória - das barreiras da separação. Mas esta definição seria superficial, na medida em que a solidão pode surgir como uma ilha dentro do mar revolto da paixão: ao sentirmos o afastamento, ainda que breve, do objeto do desejo, toda intensidade da paixão se converte na constatação da sua incapacidade de promover a almejada, embora nunca realizável, fusão; neste momento, a lava da solidão nos envolve e, dentro desta prisão, é comum pensarmos no passado, lembrando com saudade do que vivemos.
A saudade é, portanto, esta visita do passado ao presente; é a invasão de pensamentos e sentimentos gerados por fatos pretéritos, mas que ainda ecoam dentro de nós. E a distância potencializa tais sentimentos: a saudade não decorre somente das lembranças e emoções associadas ao passado mas também da fantasia que criamos sobre essas recordações.
A saudade não é como uma foto,* um registro fiel, objetivo, do que vivemos ontem; ela é como uma pintura: ao nos lembrarmos, pintamos a cena de acordo com as emoções que sentimos hoje e que sentimos - ou imaginamos ter sentido - quando a vivemos; daí o caráter subjetivo da construção das lembranças. Desta forma, muitas vezes supervalorizamos fatos que não foram tão significativos enquanto aconteciam, o que nos faz de certo modo negar o presente; em suma, freqüentemente o passado – ou melhor, a tela das memórias transformada pelo tempo e pela saudade - se sobrepõe ao presente.
Fernando Pessoa expressa perfeitamente esta valorização do passado “só porque foi”:
A paixão e a solidão poderiam ser tratadas como opostos: a paixão como queda - ainda que ilusória - das barreiras da separação. Mas esta definição seria superficial, na medida em que a solidão pode surgir como uma ilha dentro do mar revolto da paixão: ao sentirmos o afastamento, ainda que breve, do objeto do desejo, toda intensidade da paixão se converte na constatação da sua incapacidade de promover a almejada, embora nunca realizável, fusão; neste momento, a lava da solidão nos envolve e, dentro desta prisão, é comum pensarmos no passado, lembrando com saudade do que vivemos.
A saudade é, portanto, esta visita do passado ao presente; é a invasão de pensamentos e sentimentos gerados por fatos pretéritos, mas que ainda ecoam dentro de nós. E a distância potencializa tais sentimentos: a saudade não decorre somente das lembranças e emoções associadas ao passado mas também da fantasia que criamos sobre essas recordações.
A saudade não é como uma foto,* um registro fiel, objetivo, do que vivemos ontem; ela é como uma pintura: ao nos lembrarmos, pintamos a cena de acordo com as emoções que sentimos hoje e que sentimos - ou imaginamos ter sentido - quando a vivemos; daí o caráter subjetivo da construção das lembranças. Desta forma, muitas vezes supervalorizamos fatos que não foram tão significativos enquanto aconteciam, o que nos faz de certo modo negar o presente; em suma, freqüentemente o passado – ou melhor, a tela das memórias transformada pelo tempo e pela saudade - se sobrepõe ao presente.
Fernando Pessoa expressa perfeitamente esta valorização do passado “só porque foi”:
"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia."
E é quase impossível (“quase” é eufemismo: para mim é impossível mesmo) não se deixar levar por este apego ao que se foi, bem como evitar a ansiedade que nos causa o porvir. Não é à toa que as religiões e alguns filósofos se dedicam ao tema: trata-se de algo inerente ao ser humano, que lhe causa sofrimento e ao mesmo tempo o distingue dos outros animais.
O cristianismo, tal qual o budismo, parece invalidar os pensamentos e sentimentos associados ao passado e ao futuro. No “sermão da montanha”, propõe Jesus, como exemplo de integração ao presente, o modo de viver dos seres irracionais: “Olhai as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta”. [1]
Todavia a liberdade do homem reside justamente nesta capacidade de autonomia em relação à natureza: “o animal e a natureza são um só. O homem e a natureza são dois”, ou seja, o homem é por excelência um ser antinatural; e aí se encontra sua liberdade, que lhe permite inclusive praticar excessos contra si mesmo.
Explico-me: os animais são determinados pela natureza, são condicionados por seus instintos, não podem se aperfeiçoar à medida que crescem, são perfeitos (prontos) desde o início. [2] Nós homens, não: podemos nos aperfeiçoar ao longo da vida, não estamos condicionados a sermos um só com a natureza.
Com efeito, os animais, segundo Schopenhauer, “são o presente corporificado”, na medida em que a consciência deles é limitada ao presente (instinto), “ao passo que a consciência humana tem um campo de visibilidade que abarca a totalidade da vida, e mesmo a ultrapassa” (metafísica). [3]
Destarte, rejeitar a saudade, bem como os sofrimentos decorrentes do apego e da ansiedade em relação ao futuro, é recusar um potencial humano. As lembranças, sob a perspectiva coletiva, permitem a formação da cultura, assim como a noção do futuro permite que haja planejamento. Se nos vincularmos apenas ao agora, nos afastaremos do conhecimento desenvolvido pelas experiências dos nossos ancestrais e também não conseguiremos levar a cabo grandes empreendimentos, pois evitaremos os projetos, imprescindíveis às grandes realizações.
Sem a saudade, não existiria a Odisséia. Nostalgia significa sofrimento causado pelo retorno (em grego, nóstos é retorno e álgos, dor). Como escreveu Kundera em A ignorância, Odisseu, um dos maiores aventureiros de todos os tempos, foi também o maior nostálgico. Talvez Kundera tenha invertido a ordem: porque era um grande nostálgico, Odisseu foi um incrível aventureiro.
No entanto, lembrar do passado não significa sentir saudade. Pode-se recordar sem sofrer, sem cotejar o ontem com o hoje. Tão-somente lembrar; observar uma foto e não pintar um quadro, ou seja, ter uma visão objetiva do ontem. Mas será isso possível? A memória objetiva, sem emoções, é viável? Em se tratando das relações interpessoais acredito que não; e, para ser sincero, prefiro ser um pintor que sofre a um mero observador de retratos.
Portanto, viva a saudade! Viva o apego! Viva o sofrimento! Não negarei minhas emoções, elas me fazem “humano, demasiadamente humano”. O desejo da ausência de sofrimento é uma forma de fugir da vida. Portanto, viva o Ego! Não quero ser uma partícula do cosmos nem ser um com Deus (embora o cristianismo ofereça a tentadora promessa de carregarmos o ego e as pessoas que amamos para o além, para a eternidade). Quero ser Eu! Por mais insignificante, doloroso e efêmero que isso seja perto das promessas de unidade e eternidade que oferecem as religiões e filósofos otimistas.
Não há dúvida de que a saudade é uma fuga - ainda que involuntária - do presente e que a distância do tempo transforma fatos triviais em lembranças extraordinárias. Porém, como já afirmei, este quadro é tão belo quanto a vida e por isso não deve ser evitado; a saudade é como a arte – a comparação com a pintura não é vã.
“E por falar em saudade”, a música “Pedaço de mim”, de Chico Buarque, é visceral.
O cristianismo, tal qual o budismo, parece invalidar os pensamentos e sentimentos associados ao passado e ao futuro. No “sermão da montanha”, propõe Jesus, como exemplo de integração ao presente, o modo de viver dos seres irracionais: “Olhai as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta”. [1]
Todavia a liberdade do homem reside justamente nesta capacidade de autonomia em relação à natureza: “o animal e a natureza são um só. O homem e a natureza são dois”, ou seja, o homem é por excelência um ser antinatural; e aí se encontra sua liberdade, que lhe permite inclusive praticar excessos contra si mesmo.
Explico-me: os animais são determinados pela natureza, são condicionados por seus instintos, não podem se aperfeiçoar à medida que crescem, são perfeitos (prontos) desde o início. [2] Nós homens, não: podemos nos aperfeiçoar ao longo da vida, não estamos condicionados a sermos um só com a natureza.
Com efeito, os animais, segundo Schopenhauer, “são o presente corporificado”, na medida em que a consciência deles é limitada ao presente (instinto), “ao passo que a consciência humana tem um campo de visibilidade que abarca a totalidade da vida, e mesmo a ultrapassa” (metafísica). [3]
Destarte, rejeitar a saudade, bem como os sofrimentos decorrentes do apego e da ansiedade em relação ao futuro, é recusar um potencial humano. As lembranças, sob a perspectiva coletiva, permitem a formação da cultura, assim como a noção do futuro permite que haja planejamento. Se nos vincularmos apenas ao agora, nos afastaremos do conhecimento desenvolvido pelas experiências dos nossos ancestrais e também não conseguiremos levar a cabo grandes empreendimentos, pois evitaremos os projetos, imprescindíveis às grandes realizações.
Sem a saudade, não existiria a Odisséia. Nostalgia significa sofrimento causado pelo retorno (em grego, nóstos é retorno e álgos, dor). Como escreveu Kundera em A ignorância, Odisseu, um dos maiores aventureiros de todos os tempos, foi também o maior nostálgico. Talvez Kundera tenha invertido a ordem: porque era um grande nostálgico, Odisseu foi um incrível aventureiro.
No entanto, lembrar do passado não significa sentir saudade. Pode-se recordar sem sofrer, sem cotejar o ontem com o hoje. Tão-somente lembrar; observar uma foto e não pintar um quadro, ou seja, ter uma visão objetiva do ontem. Mas será isso possível? A memória objetiva, sem emoções, é viável? Em se tratando das relações interpessoais acredito que não; e, para ser sincero, prefiro ser um pintor que sofre a um mero observador de retratos.
Portanto, viva a saudade! Viva o apego! Viva o sofrimento! Não negarei minhas emoções, elas me fazem “humano, demasiadamente humano”. O desejo da ausência de sofrimento é uma forma de fugir da vida. Portanto, viva o Ego! Não quero ser uma partícula do cosmos nem ser um com Deus (embora o cristianismo ofereça a tentadora promessa de carregarmos o ego e as pessoas que amamos para o além, para a eternidade). Quero ser Eu! Por mais insignificante, doloroso e efêmero que isso seja perto das promessas de unidade e eternidade que oferecem as religiões e filósofos otimistas.
Não há dúvida de que a saudade é uma fuga - ainda que involuntária - do presente e que a distância do tempo transforma fatos triviais em lembranças extraordinárias. Porém, como já afirmei, este quadro é tão belo quanto a vida e por isso não deve ser evitado; a saudade é como a arte – a comparação com a pintura não é vã.
“E por falar em saudade”, a música “Pedaço de mim”, de Chico Buarque, é visceral.
"Pedaço de Mim
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus"
Nesta canção da saudade, percebe-se o uso da anáfora, que consiste na repetição de um grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos. Assim, o verso “Oh, pedaço de mim” e o verso subseqüente, o qual sempre se inicia com “oh, metade...”, possuem a função de vocativo, ou seja, designam a quem o Eu-lírico fala.
Desta forma, em “Pedaço de mim”, o Eu-lírico implora ao objeto da saudade – “oh, pedaço de mim" - que vá embora, e o faz explicando em cada estrofe o que é a saudade e o quanto ela dói. É interessante ressaltar que as lembranças são partes do Eu (partes arrancadas dele); não são o outro, mas, sim, fragmentos do Eu, mutilados e exilados pelo tempo. Nesse contexto, esta poesia é na verdade um monólogo (considerando o Eu-lírico como um só ser) entre uma parte do Eu que deseja esquecer a fim de parar de sofrer e a outra, que insiste em recordar o amor e fomentar a saudade; ou seja, uma conversa entre razão e emoção.
Racionalmente, quem sofre de saudade clama pelo esquecimento: é melhor não se lembrar do que sonhar com algo que inexoravelmente não existe mais. Por isso, no terceiro verso de todas as estrofes (exceto a última), o Eu-lírico roga que a causa da saudade (o pedaço emotivo dele) leve embora seus sinais, seu olhar, seu vulto, tudo o que possa provocar mais saudade; e, na última estrofe, exige que o objeto do desejo lave os seus olhos tristes, que não conseguem parar de admirar a tela das lembranças.
Seria perda de tempo comentar as definições de saudade de cada estrofe; basta ler, ouvir e sentir; desejo, no entanto, escrever sobre a comparação da saudade com um barco, o qual descreve um arco e evita atracar no cais. O barco é a imagem que temos do passado, o tempo é a distância que há entre nós, que estamos no cais (presente), e o barco que a cada dia está mais longe. E mesmo quando o barco sumir no horizonte (porque este é o seu destino - ele nunca voltará ao cais), seremos capazes de imaginá-lo e pintá-lo no quadro da saudade, com as cores e as emoções que surgirem ao tocarmos a tela do ontem com as tintas de hoje.
A saudade é prova de que o amor existiu. Pois tudo que há é finito. A saudade é o enterro de uma paixão. A saudade é a mortalha do amor.
Notas
* A foto também não é um registro objetivo. Uso a comparação, mas na verdade a fotografia é subjetiva, não objetiva.
[1] Novo Testamento. Mateus, 5:7. “Olhai as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor que elas? (...) E quanto às vestes, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham nem fiam (...) Não andeis pois inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos?”
[2] ROSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os homens. In: Rosseau. Os pensadores. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo. Nova Cultural, 2000.
[3] SCHOPENHAUER, Arthur. Da morte; Metafísica do Amor; Do Sofrimento do Mundo. São Paulo. Martin Claret, 2008.
Desta forma, em “Pedaço de mim”, o Eu-lírico implora ao objeto da saudade – “oh, pedaço de mim" - que vá embora, e o faz explicando em cada estrofe o que é a saudade e o quanto ela dói. É interessante ressaltar que as lembranças são partes do Eu (partes arrancadas dele); não são o outro, mas, sim, fragmentos do Eu, mutilados e exilados pelo tempo. Nesse contexto, esta poesia é na verdade um monólogo (considerando o Eu-lírico como um só ser) entre uma parte do Eu que deseja esquecer a fim de parar de sofrer e a outra, que insiste em recordar o amor e fomentar a saudade; ou seja, uma conversa entre razão e emoção.
Racionalmente, quem sofre de saudade clama pelo esquecimento: é melhor não se lembrar do que sonhar com algo que inexoravelmente não existe mais. Por isso, no terceiro verso de todas as estrofes (exceto a última), o Eu-lírico roga que a causa da saudade (o pedaço emotivo dele) leve embora seus sinais, seu olhar, seu vulto, tudo o que possa provocar mais saudade; e, na última estrofe, exige que o objeto do desejo lave os seus olhos tristes, que não conseguem parar de admirar a tela das lembranças.
Seria perda de tempo comentar as definições de saudade de cada estrofe; basta ler, ouvir e sentir; desejo, no entanto, escrever sobre a comparação da saudade com um barco, o qual descreve um arco e evita atracar no cais. O barco é a imagem que temos do passado, o tempo é a distância que há entre nós, que estamos no cais (presente), e o barco que a cada dia está mais longe. E mesmo quando o barco sumir no horizonte (porque este é o seu destino - ele nunca voltará ao cais), seremos capazes de imaginá-lo e pintá-lo no quadro da saudade, com as cores e as emoções que surgirem ao tocarmos a tela do ontem com as tintas de hoje.
A saudade é prova de que o amor existiu. Pois tudo que há é finito. A saudade é o enterro de uma paixão. A saudade é a mortalha do amor.
Notas
* A foto também não é um registro objetivo. Uso a comparação, mas na verdade a fotografia é subjetiva, não objetiva.
[1] Novo Testamento. Mateus, 5:7. “Olhai as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor que elas? (...) E quanto às vestes, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham nem fiam (...) Não andeis pois inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos?”
[2] ROSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os homens. In: Rosseau. Os pensadores. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo. Nova Cultural, 2000.
[3] SCHOPENHAUER, Arthur. Da morte; Metafísica do Amor; Do Sofrimento do Mundo. São Paulo. Martin Claret, 2008.
Oi Bernardo, aqui é a Rebeca do Café com impressões. Como você deixou o endereço do seu blog no e-mail, resolvi dar uma olhada e achei que esse post tem muito a ver com o livro de amanhã. Bjo e até lá.
ResponderExcluirOi,
ResponderExcluirMuito bom! O amor acaba e/ou se transforma, e a saudade 'pega' da mesma forma. Cito Paulinho da Viola no documentário sobre o próprio: "Não vivo no passado, mas ele vive em mim."
Bjs,
Mônica
Olá, Rebeca! Realmente o texto tem a ver com o livro; em "admirável mundo novo" há uma negação dos sentimentos, do apego - é tudo razão e prazer, o sofrimento não existe, nem a arte...
ResponderExcluirBeijos e até amanhã!
Oi, Mônica, tudo bem?
ResponderExcluirAdoro este documentário. Não lembrava deste trecho que citou. Muito bom!
Refutando a ansiedade, o Paulinho canta:
"Meu mundo é hoje
Não existe amanhã pra mim
Eu sou assim
Assim morreirei um dia
Não levarei arrependimentos
Nem o peso da hipocrisia"
Beijos!
Você fez o post pra mim? hahahaha
ResponderExcluirO problema é que, ainda que seja humano e acontece com a maior frequência do mundo, dói muito ficar remoendo. Não sei se é saudavel...
Que bom que se identificou, Juliana. O que você disse é verdade, mas faz parte da vida sofrer; tentar ser muito saudável nos torna meio desumanos. Estou até escrevendo sobre os ganhos do desequilíbrio, por mais louco que isto possa parecer...
ResponderExcluirÉ estranho, pois, certa feita, li uma frase de sentido diametralmente oposto ao seu entendimento: "saudade é o amor que fica". É o que restou de um momento, sentimento, enfim, de um fato que nos marcou, outrora, positivamente. Porque efetivamente amamos, ainda que de forma efêmera, e daí sermos abordados pela saudade. É só pensar que não sentimos saudade daquilo de que não gostamos; no mínimo recordamos, porém, com repúdio.
ResponderExcluirMas, concordo com você : prefiro a pintura ao retrato. Talvez, este seja o corolário natural das coisas: a distância faz com que não enxerguemos com fidedignidade. Pode-se, com isso, utilizar a sua metáfora; o barco que se distancia, ao cruzar o horizonte, já não é o mesmo daquele que outrora estava no cais. A distância embaça nosso olhar.
Marília, segundo Neruda:
ResponderExcluir"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas a amada já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudade,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido."
Compreendo o que disse, Marília, mas penso que a saudade é a recordação do amor que se foi e não o amor que fica.
ResponderExcluirObserve que Neruda no segundo verso parece concordar contigo, ao dizer que "[saudade] é quando o amor ainda não foi embora"; porém, adiante parece concordar comigo: "é o gosto de morte na boca dos que continuam..."
E quando falo sobre sofrimento, não me refiro aos fatos dolorosos do passado, mas sim a dor que sentimos hoje ao lembrarmos de bons momentos que sumiram no horizonte do tempo.
Ouso discordar em parte, meu caro. Saudade é sim o que restou de um amor.
ResponderExcluirEu amo, hoje, as coisas que já partiram da minha vida e que me marcaram. Quando recordo-me delas, sinto sim, amor. É quando a saudade bate à minha porta.
A paixão é sim finita, mas o amor não. Ele se transforma com o tempo. Convola-se, às vezes, em uma forma diferente de amor, porém, nunca deixa de existir. Ele é, para mim, soberano e perene.
Obs: Lindo poema de Neruda.
Tratando-se de arte e sentimentos, não há certo ou errado, Marília.
ResponderExcluirEu e o Chico achamos que a saudade é a morte do amor; você e o Neruda, que é o que restou do amor...
O importante é amarmos e sentirmos saudades. Afinal, o que são os conceitos e as palavras diante dos sentimentos, diante da vida?
Está certo, doutor. Esqueci de registrar: lindo ensaio.
ResponderExcluirObrigado, Doutora. Seus comentários foram ótimos.
ResponderExcluirMarília, estive pensando sobre nossa divergência e tenho algumas considerações a fazer. Parece-me que não é só o amor que gera saudade.
ResponderExcluirTemos a tendência de transformar tudo o que foi em algo maior, mais importante, do que realmente foi enquanto era vivido. Nesse contexto, podemos sentir saudades de fatos que à época em que vivenciados não eram amor - mas que o tempo nos faz pintar como se fossem (v. poesia de F. Pessoa).
E há ainda algo que pensei em abordar no texto, mas não o fiz: trata-se da saudade de nós mesmos em certas fases de nossas vidas, principalmente na infância. Tenho muitas idéias acerca desta sacralização do que fomos quando crianças.
O que seria então, Marília, essa saudade que sentimos de nós mesmos?
Lendo "Um amor de Swann", econtrei um trecho magnífico sobre a saudade. Depois de uma seqüência de lembranças despertada pela frase musical associada ao início de sua paixão por Odette - quando ainda era correspondido por ela -, Swann recorda-se da noite na qual a havia procurado incessantemente e, por fim, encontrado (já quase sem esperanças) a sua amada:
ResponderExcluir“...aquela noite que lhe parecera sobrenatural e na verdade (...) pertencia a um mundo misterioso ao qual não pode voltar depois que suas portas se fecham. E Swann percebeu, imóvel diante daquela felicidade revivida, um infeliz que lhe causou piedade porque não o reconheceu de imediato, embora devesse baixar os olhos para que não vissem que estavam cheios de lágrimas. Era ele próprio.
Quando compreendeu, sua piedade findou, mas sentiu ciúmes do outro ele-mesmo que ela havia amado...”
PROUST, Marcel. Um amor de Swann. Tradução de Celina Portocarrero. Porto Alegre: L&P, 2007. P. 204.
Uma opinião de Mario Quintana sobre o tema:
ResponderExcluir"Gramática da felicidade
Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o tempo futuro (esperança, para os idealistas). Uma gangorra, como vês, cheia de altos e baixos - uma gangorra emocional. Isto acaba fundindo a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de vez o Homo sapiens. Mais felizes os animais, que, na sua gramática imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo. E que nem dá tempo para suspiros..."