Já
escrevi algumas vezes sobre a crise de cidadania, a falta de
participação das pessoas nos processos coletivos, na construção
dos partidos e na atuação dos governos. Tudo isso ligado ao
discurso de falência da política que prevalece na grande mídia, ao qual me contraponho.
Agora, vou falar um pouco sobre nossos partidos de esquerda (ou que
são chamados assim), que também tem sido atacados pela retórica
antipolítica.
Pra
começar, nossos partidos à esquerda não são comunistas nem
revolucionários. Os fatos de serem partidos na ordem jurídica
vigente já os colocam como reformistas e com a nossa Constituição
de 1988, que é capitalista e protetora da propriedade privada, não
há como instaurar um regime comunista. Nossa esquerda partidária
está mais para defensora do estado de bem-estar social, uma forma de
capitalismo abrandado, que se fortaleceu no pós-guerra e vem sendo
destruído pelas práticas neoliberais.
Os
partidos de esquerda tem propostas de fortalecimento dos serviços
essenciais do Estado e assim agem em cumprimento à nossa
Constituição, que é nitidamente alinhada às políticas de
bem-estar social. Um leitura das propostas da esquerda e das normas
constitucionais deixa isso muito claro.
E
essa ideia de serviços essenciais e de qualidade prestados
diretamente pelo Estado é algo adotado em muitos países
capitalistas desenvolvidos, como vemos na Europa e até nos EUA, onde
a educação pública básica é frequentada também pela classe
média, embora lá a saúde esteja privatizada e com acesso restrito.
Os
partidos à direita - aqui e no resto do mundo - tem uma visão de
redução do Estado, atingindo os serviços essenciais. Numa
perspectiva de globalização, a direita quer fazer de tudo para
reduzir o estado, a proteção dos trabalhadores, a tributação que
mantém os serviços essenciais, e assim atrair as grandes empresas,
que se instalam onde houver mais facilidades, menos custos. A nossa diferença é que muitas das empresas da elite brasileira obtém privilégios do Poder Público.
E a
direita sabe da importância de dominar também o Poder Judiciário,
porque é dele palavra final sobre a interpretação das normas
constitucionais. Com a nossa atual Constituição, fica complicado
impor o estado mínimo e é por isso que os governos de direita fazem
emendas e contam com a atuação do STF para esvaziar o conteúdo dos
direitos assegurados na Lei Maior.
O
mais curioso é que muitas pessoas que votam nos partidos de direita
querem passar em concursos públicos e fazem uso dos serviços
públicos de excelência, como nossas universidades e alguns órgãos
ligados à saúde. E também pagam caro escolas particulares e planos
de saúde, que muitas vezes oferecem serviços ruins.
Nossa tributação é injusta, mal feita, onera demais os mais pobres e a
classe média, há muita sonegação, facilita pros ricos, e a
arrecadação é baixa, comparada com outros Estados. Vale a pena
pesquisar e se informar sobre o assunto. O discurso da grande mídia
e da direita não aborda isso, defende cortes nos serviços, nos
tributos e não uma reforma que promova justiça, melhor arrecadação
e qualidade nos serviços. Na verdade, é a esquerda que tem
defendido essa pauta e tem sido atacada com argumentos que não
correspondem à realidade.
Na
década de 1950, quando o Brasil era muito menos desenvolvido, era
comum as pessoas de classe média estudarem em escolas públicas,
junto dos mais pobres. Nas últimas décadas só os mais pobres
permaneceram no ensino público. A classe média está pagando caro
por ensino privado. Não seria mais justo pagar menos mensalidades,
ter uma tributação mais justa e promover um ensino público de
qualidade?