O Botafogo, ao vencer o Flamengo por 2 a 1, tornou-se o Campeão Carioca de 2010; sem dúvida, uma mais que merecida homenagem a Armando Nogueira, jornalista e botafoguense ilustre, que faleceu há pouquíssimo tempo.
Junto-me ao alvinegro carioca para homenageá-lo, mas não só por ter sido um torcedor apaixonado e um grande jornalista, mas por ter tido a sensibilidade de unir dois de seus maiores amores: o futebol e a literatura.
Armando jogava com as palavras - tratava-as com a mesma habilidade com que um craque trata a bola. Uma pelada, a seus olhos, era pura poesia:
Pelada de Subúrbio
(Armando Nogueira)
"Nova Iguaçu, quatro horas da tarde, sábado de sol. Dois times suam a alma numa pelada barulhenta; o campo em que correm os dois times abre-se como um clarão de barro vermelho cercado por uma ponte velha, um matagal e uma chácara silenciosa, de muros altos.
A bola, das brancas, é nova e rola como um presente a encher o grande vazio de vidas tão humildes que, formalmente divididas, na verdade, juntam-se para conquistar a liberdade na abstração de uma vitória.
Um chute errado manda a bola, pelos ares, lá nos limites da chácara, de onde é devolvida, sem demora, por um arremesso misterioso. Alguns minutos mais tarde, outra vez a bola foi cair nos terrenos da chácara, de onde voltou lançada com as duas mãos por um velhinho com jeito de caseiro.
Na terceira, a bola ficou por lá; ou melhor, veio mas, cinco minutos depois, embaixo do braço de um homem gordo, cabeludo, vestido numa calça de pijama e nu da cintura para cima. Era o dono da chácara.
A rapaziada, meio assustada, ficou na defensiva, olhando: ele entrou, foi andando para o centro do campo, pôs a bola no chão e, quando os dois times ameaçavam agradecer, com palmas e risos, o gesto do vizinho generoso, o homem tirou da cintura um revólver e disparou seis tiros na bola.
No campo, invadido pela sombra da morte, só ficou a bola, murcha."
(Nogueira, Armando. "Os melhores da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1977, pág. 22 - extraído do site www.releituras.com/anogueira_suburbio.asp)
Junto-me ao alvinegro carioca para homenageá-lo, mas não só por ter sido um torcedor apaixonado e um grande jornalista, mas por ter tido a sensibilidade de unir dois de seus maiores amores: o futebol e a literatura.
Armando jogava com as palavras - tratava-as com a mesma habilidade com que um craque trata a bola. Uma pelada, a seus olhos, era pura poesia:
Pelada de Subúrbio
(Armando Nogueira)
"Nova Iguaçu, quatro horas da tarde, sábado de sol. Dois times suam a alma numa pelada barulhenta; o campo em que correm os dois times abre-se como um clarão de barro vermelho cercado por uma ponte velha, um matagal e uma chácara silenciosa, de muros altos.
A bola, das brancas, é nova e rola como um presente a encher o grande vazio de vidas tão humildes que, formalmente divididas, na verdade, juntam-se para conquistar a liberdade na abstração de uma vitória.
Um chute errado manda a bola, pelos ares, lá nos limites da chácara, de onde é devolvida, sem demora, por um arremesso misterioso. Alguns minutos mais tarde, outra vez a bola foi cair nos terrenos da chácara, de onde voltou lançada com as duas mãos por um velhinho com jeito de caseiro.
Na terceira, a bola ficou por lá; ou melhor, veio mas, cinco minutos depois, embaixo do braço de um homem gordo, cabeludo, vestido numa calça de pijama e nu da cintura para cima. Era o dono da chácara.
A rapaziada, meio assustada, ficou na defensiva, olhando: ele entrou, foi andando para o centro do campo, pôs a bola no chão e, quando os dois times ameaçavam agradecer, com palmas e risos, o gesto do vizinho generoso, o homem tirou da cintura um revólver e disparou seis tiros na bola.
No campo, invadido pela sombra da morte, só ficou a bola, murcha."
(Nogueira, Armando. "Os melhores da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1977, pág. 22 - extraído do site www.releituras.com/anogueira_suburbio.asp)
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