Na igreja
de Arraial d´ajuda, sul da Bahia, na parte de trás, acima da
encosta, de frente pros coqueiros e pro mar, eu e Zezé (tio), fim de
tarde, passou uma borboleta; eu ou ele a pegamos com os dedos em
pinça, soltamos segundos depois. Ele disse que uma borboleta vivia
muito pouco, um ou poucos dias, e que não era justo prendê-la; que
pelo pouco tempo de vida, dez segundos presa nos nossos dedos era
muito tempo pra ela; e daí resolvemos calcular o que seriam esses
dez segundos em tempo de vida humana. Não me lembro se chegamos a
algum resultado numérico. Rimos. Rimos muito. A borboleta circulava
à volta; tentamos equiparar as 24 horas da vida da borboleta a uma
média de 70 anos de vida humana; falamos de como tudo era efêmero;
discutimos se a borboleta teria alguma noção sobre a brevidade da
sua vida; e se a noção de tempo da borboleta era diferente da
nossa, se ela encarava um dia como nós os 70 anos; se ela sentiria a
velhice ou algo parecido. Lembro apenas da conclusão principal do
papo que durou não sei quanto tempo, estava escuro quando
levantamos: era uma puta sacanagem segurar as borboletas, pelo tempo
que fosse.
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